Cecilia Wainstock Lipka

Cecilia Wainstock Lipka


Maryla Gremo foi sua professora e a responsável por seu ingresso no Corpo de baile do Theatro municipal /RJ. Soube da prova e, apesar de estar há uns 15 dias sem fazer aula, fez um bom exame. Como não havia vaga (as duas haviam sido ocupada por David Dupré e Celina Ribeiro) D. Maryla sugeriu que ficasse fazendo aula na escola de dança esperando uma vaga. Foi aluna Edith Vasconcellos. Na época Barreto Pinto era o Diretor do Theatro e, por insistência de D. Maryla aceitou recebe-la e a contratou. Tatiana Leskova assinou a nomeação porque houve uma vaga e o pedido do Diretor. Quando entrou para o corpo de baile já dançava Sylphides, Lago com o Jonhy (Franklin) – 1º bailarino na época. Com a viagem de Bertha Rosanova e o ingresso de Yvone (Meyer) numa companhia francesa – Marquis de Cuevas - ficou com alguns papeis. Em Les Sylphides, duas solistas de Sylphides e Prelúdio

ROTINA.
Tínhamos aula de manha, era nove e pouco e depois tínhamos hora de almoço até duas horas e depois ensaiávamos até as cinco. Depois aula particular com Maryla Gremo e com Tatiana Leskova, Nas livrarias procurava os vídeos, para entender melhor o que fazia.  

ÉPOCA MELHOR
Dançar com os grandes bailarinos, dançar com (Alicia) Markova, (Ygor)  Yuskevisti, (Alicia)Alonso. Alonso pra mim foi uma coisa maravilhosa. Eu tinha uma afinidade grande com a (Alicia) Alonso, incrível, tanto que tinha uma passagem pequena no meu solo, me lembro que eu tinha tanto entusiasmo com ela que terminei com 3 piruetas em dedans e ela elogiou. Fiquei grávida e não sabia se iria continuar. Estava ensaiando Lago com Arthur Ferreira. D Eugenia havia me dado a oportunidade, de dançar Melodia de Gluck com o Aldo. Mas estava com três meses de gravidez.
Ia dançar o primeiro papel de O galo de ouro revezando com a Angélica (Maria Angelica). Pedi Mme Makarova (Marie Makarova) para me ensaiar. Ela me deu alguns detalhes e o efeito foi outro. Ela me disse - há muito tempo não vou ao Theatro mas eu quero ver você dançar. Ela era uma senhora de os olhos muito grandes, com problemas de saúde e não podia calçar sapato.  Consegui uma frisa pra ela assistir. Ela me abraçou chorando. Na véspera da estreia recebo um telefonema que o meu sogro havia falecido. Fomos a capela e meu marido me disse Cecília sei que você deve estar muito nervosa mas você pode relaxar, é uma oportunidade grande pra você. Se você pudesse ajudar a trazer meu pai de volta eu seria o primeiro a te pedir para não dançar mas eu acho que você deve dançar. Não importa o que os outros vão dizer e eu tenho certeza que seu irmão vai dizer pra você não dançar se você quer me escutar você vai dançar. A ansiedade que eu estava era enorme. Eu acredito muito em Deus, veio uma força lá de cima cada religião sente de um jeito, no judaísmo você não chama, não pode dizer o nome porque é tão sagrado que você não pode nem chamar- eu acho isso bonito- mas essa força é uma coisa animal, você sente e eu entrei no papel. Quando terminou, o corpo de baile, o coro que nunca tinha me visto dançar nada tão importante, aplaudiram de pé. A cortina abria e fechava varias vezes e eles foram depois até meu camarim cantando a música do galo de ouro e o meu marido não viu, estava no enterro. Quando eu sai um amigo me abraçou e disse você dançou tão linda (eu estava grávida e ele não sabia) e ele disse que Deus lhe de um presente. Já estava com o presente.


Na saída encontro com o maître na escada e disse que ia pedir licença eu vou me ausentar não vou poder fazer a temporada apesar de ter recebido um primeiro papel. Numa outra época, por decisão do diretor Dr. Rubens Dinard, ficou sacramentado que não tinha dono de papel, todos os papeis deveriam ter substituto.   A Angélica era a substituta da Tânia para fazer a Vendedora de Flores de Gaité (Parisienne de Leonide Massine) e eu a substitua da Angelica mas, me foi dito - aprende mas não é para dançar. A Angélica saiu eu fiquei. Decio (Otero), que me viu passar a coreografia no palco, disse - quero dançar com você. No dia do ensaio geral eu não estava bem, tinha tido um problema de saúde e estava desidratada, de repouso. Meu marido me disse quantas vezes você estava assim e você chegou lá e dançou, Resolvi ir. Eu só faltava desmaiar no palco e o Décio disse não tem importância hoje é um dia amanha é outro – mas eu me senti tão bem. Quando eu pego aquela cesta no final e jogo e faço assim (gesto com a cesta de flores que a bailarina faz) eu não sabia que eu estava aqui na terra, que eu estava no palco, entrei no personagem e esqueci quem eu era.  Quando escutei o aplauso eu acordei, voltei a realidade.

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