Antonio Negreiros

Antonio Negreiros




Nasceu no Rio de Janeiro em 3 de maio de 1958.

Gostava muito de dançar em festas, sempre foi um “pé de valsa”, mas não sabia que escolheria a dança como profissão. O Royal Ballet veio fazer uma temporada no Rio em 1973, a família comprou assinatura e na terceira récita apresentaram um ballet La fille mal gardée. Nessa récita sobrou um ingresso e a mãe e a irmã pediriam que fosse com elas para acompanhá-las. Sentou lá sem nenhuma expectativa, Quando eu viu as pessoas dançando disse - "que coisa linda". Chegou em casa e começou a saltar, "fazer ballet" pela casa. Ja tinha a altura que tem hoje, mais de um metro e noventa mas resolveu entrar numa academia. Morria de vergonha porque era muito difícil fazer isso na época. Começou pelo Jazz com Lennie Dale em 1976 que o considerou muito talentoso para dançar, que tinha o corpo muito flexível, muita musicalidade, e que podia fazer dança séria se eu quisesse.Em 1977, entrou para o ballet. Inicialmente foi até a academia da Tatiana Leskova, e não teve coragem de entrar, todo mundo vai dizer que eu sou bicha, que eu sou gay, não quero. Ficou indo e voltando todos os dia ate que depois de uma semana resolveu conversar com D. Tânia (Tatiana Leskova). Ela não tinha horário. Foi para D. Eugenia (Feodorova) e que o colocou na aula de  Armando Nesi. Fiz uma aula com o Armando e ele olhou para mim e perguntou "você dança ha quantos anos? Desculpa professor eu nunca fiz aula de ballet é a primeira vez. Mas não vai começar a fala já mentindo para mim. Não estou mentindo para você". Ele ficou meio brabo comigo e D. Eugenia (Feodorova- russa que não falava bem o português) que estava na porta da sala viu o movimento, entrou e falou – “No Armando menino não faz ballet não sabe dançar nada tem corpo talentoso mas não sabe dançar, você sai de aula de Armando. Seu inicio foi com D. Eugenia Feodorova, com passagens pelos estudios de Dalal Achcar e Tatiana Leskowa. Na D. Genia (Eugenia Feodorova) fez aulas com Rosalia Verlangieri, Rosangela Souza. Na D. Tania (Tatiana Leskova) com Aldo Lotufo e Jane Blauth e na Dalal (Achcar), com Miriam Guimaraes, Desmond Doyle e Maria Luisa Noronha. Raissa Strutkova, veio dançar aqui , deu aula na D. Eugenia e fez também. D. Eugenia tinha muito orgulho de mim então ela queria me mostrar para os amigos dela “veja como meu amigo está talentoso ‘’ eu a amava e ela me amava. No Theatro Municipal Mr. Doyle (Desmond Doyle), Jorge Siqueira, mas aí já profissional, já não estava mais me formando já estava dançando.
No exterior, Yvonne Meyer e Atlio Labis em Paris, David Howard, Igor Schvedzoff e Zena Romett em Nova York.
Entrou para corpo de baile em 1979, sob a direção de Tatiana Leskowa. Na época, era a melhor cia de dança do Brasil.

ROTINA 
Tínhamos a nossa aula diária as 10hs, e depois do meio dia começavam os ensaios que iam normalmente até as 17 hs, de segunda a sexta, salvo quando estávamos em temporada. Nessa época, o corpo de baile estava em grande ebulição, trocaram 2 vezes sua diretoria e eu achei melhor seguir outro caminho. Fui para o Bale de Stuttgart, direção de Marcia Haydee em 1980.

BALLETS QUE DANÇOU
No Teatro Municipal - 1979 -  Petrouchka Michel Fokine/ Stavinsky) Mandarim Maravilhoso ( Aurelio M Milloss/ B. Bartok),  Qincas Berro dágua,( F. Mignone/ Gilberto Motta), Sarau de Sinhá (Aloysio de Alencar Pinto /Dennis Gray)). Cantábile (Samuel Barber/Oscar Araiz) com Jania (Batista) que depois foi primeira bailarina do Bejart, isso seria 1979/1980.  Na segunda temporada, quando voltou do Stuttgart - Quebra Nozes, Romeu e Julieta com Makarova (Natalia) e Márcia Haydée, Don Quixote, Sagracao da Primavera, de Norbert Vezak , Sentinela ( Lourdes BastosCantábile (Oscar Araiz), Lago dos Cisnes segundo e terceiro atos em Havana a convite de Alicia Alonso. Com Jania Batista no festival em Jackson Mississipe/ EEUU representando o Brasil - Cantábile, Lago segundo e terceiro atos.
Retornando ao corpo de baile, em1981/1982 - o personagem Paris, em Romeu e Julieta, onde tive o privilégio de fazer os pas de deux, com Natalia Makarova, Marcia Haydee e Ana Botafogo.
Em 2013, fui convidado a participar da montagem de Quebra Nozes, de Dalal Achcar, fazendo o personagem de Drosselmeyer.
No Bale de Stuttgart, dancei quase todo o repertorio da cia, com destaque para Eugene Oneguin, Megera Domada, Romeu e Julieta, em Lausanne e em varias turnês internacionais.

PRIMEIROS BAILARINOS DA ÉPOCA
Aurea Hammerli, Nora Esteves, Cristina Martinelli, a grande estrela da Cia era a maravilhosa. Estava chegando para a Cia  uma menina, um assombro chamada Cecília Kerche que viria a se tornar nossa grande estrela nos palcos internacionais. Olhávamos para aquilo e "meu Deus do céu tudo que a gente vê nos filmes da Rússia de repente apareceu aqui no Brasil". Cristina Martinelli que foi sempre o meu ídolo, foi sempre a minha bailarina apaixonada e minha amiga querida. Tinha o Bujones, Fernando Bujones que era um bailarino muito importante, cubano de uma técnica sensacional, mas nunca podia comparar com o Baryshnikov, Baryshinokov tinha um lugar especial no meu coração e Natália Makarova que eu tive a honra de dançar com ela no Corpo de Baile em  Romeu e Julieta aliás uma pessoa complicada para dançar, mas era uma grande bailarina da época fiquei super feliz de dançar com ela. Entre os rapazes, Fernando Mendes e Jadir Picanço, excelentes bailarinos, além de amigos queridos do dia a dia. Chico Timbó, Carlos Meziat, e o querido Luiz Arrieta.
No cenário internacional, Baryshnikov era a grande estrela junto com Natalia Makarova. Vassiliev e Maximova eram os maiores do Bolshoi. Merle Park e Lynn Seymour no Royal, sempre com Anthony Dowell, o maior danseur noble do Ocidente. Erick Brun, de origem nórdica, era também grande astro dos palcos internacionais. Em NY, brilhavam Ivan Nagy, Fernando Bujones e Cynthia Gregory. Em Cuba, Jorge Esquivel e Loipa Araujo eram imbativeis.

OS IDOLOS E OS COLEGAS
Ídolo para mim se chama Michail Baryshinokov, acho que é uma voz comum na nossa época e parece que até hoje de vez em quando aparece um russo maravilhoso mas ainda assim o russo maravilhoso não dança como o Baryshnikov dançou quando ele apareceu. Mudou a historia da nossa vida na dança, principalmente depois que saiu da dança clássica e foi fazer musical na Broadway. Mostrou como se pode fazer com maestria qualquer coisa de dança. Sempre achei que você para fazer dança tem que saber dança clássica, depois você critica, você flexiona o pé, depois você faz tudo, mas primeiro aprende a dançar. O Picasso só foi o grande Picasso desconstruindo as figuras depois que ele foi um mestre no clássico, então acho que isso é dança.Sempre gostei de dançar Jazz, sempre gostei de dançar moderno talvez seja até mais adequado para o meu corpo porque eu sou muito grande, mas eu não acredito num bailarino que não coloca uma sapatilha e vai fazer uma quinta posição. Dança começa aí.

PROFESSORES/ MAITRES/ DIRETORES
No Brasil
Emilio Martins, Dennis Gray, D. Tânia (Tatiana Leskova), José Moura. Logo depois a Márcia (Haydée) veio com o Ballet de Stuttgart, fiz prova e fui embora. Quando eu voltei com o ballet de Stuttgart ela veio montar Romeu e Julieta aqui, Márcia Haydée com Rick (Richard Gragun) e todo o elenco para montar o ballet  já com Dalal (Achcar) como diretora. Aula com Mr. Doyle, com Jorge Siqueira e de vez em quando com Miriam Guimarães. Eram os três e ensaiadores também dependendo do ballet. Tinha Jean Marie Dubrull que veio ensaiar o triunfo de Afroditi (Carll Orff – Jean Marie Dubrull)
Fora do Brasil
Em NY  -  Igor  Schwezoff, com David Haward, que dava aula pra todo mundo -  Baryshnikoff, Natalia Makarova todo mundo ali e nós lá também. Na Europa eu fiz aula com todos os maîtres do Ballet de Stuttgart e com a Ivone Meyer (França). Havia um professor que dava aula dava uma aula de "barre au solo" que era interessantíssima, estou falando de trina anos atrás não dá para lembrar quase nada mas enfim eu fazia aula com todo mundo por onde eu passava.  O "programa" era descobrir qual era a grande academia para procurar os professores.

ATUAÇAO COMO PROFESSOR E COREOGRAFO
Desde cedo comecei a dar aulas tanto de jazz, ballet clássico e alongamento e em 1995 abri o meu estúdio no Leblon, RJ.
Como coreografo comecei no palco do Scala Rio, coreografando os shows do Balão Magico e dos Trapalhões com Xuxa. Depois vieram várias coreografias e   trabalho de corpo para várias peças de teatro, no Rio e em várias capitais brasileiras.
Atualmente assino todas as coreografias do Cabaré Pacheco Leão, núcleo da novela Joia Rara, produção da Rede Globo.

QUE ANO VOCE ENTROU PARA O CORPO DE BAILE
Acho que foi 1977ou 1978 eu entrei na Cia, fiquei 1 ano, fui para o Bejart, não fiquei no Bejart, vim para o Rio, Tatiana Leskova era a diretora foi a primeira época que eu dancei com o Theatro dancei Petrouchka em 1978 /1979. Em 1980 Marcia Haydée veio com o Ballet de Strutgard, fiz prova e fui com o Ballet de Strutgarg  e fiquei 1980 e 1981 ai voltei para o Theatro em meados de 81 e fizemos a temporada de Romeu e Julieta, Quebra nozes  e no final de 1982 eu saí do Theatro. São duas temporadas.

PORQUE VOCE QUIS ENTRAR PARA O CORPO DE BAILE
Na época no Brasil o Corpo de baile do Theatro Municipal era o corpo de baile de excelência brasileiro. É claro que a gente quer dançar no melhor lugar possível e o Theatro era o melhor lugar possível apesar dos problemas político, o corpo de baile estava sempre no diretor, e o diretor nunca achava bom. A política sempre foi confusa no Theatro mas eles eram os melhores bailarinos do Brasil e onde eu queria dançar.

COMO ERA A ROTINA DOS ENSAIOS E AULAS
Chegávamos no Theatro nove e meia, as dez horas tinha uma aula para todo o corpo de baile todo. As vezes era separado homens e mulheres na sala grande. Trabalhamos essa primeira temporada no Copa Leme (um clube que existe em Copacabana), o Theatro estava fechado por causa de uma reforma. O Copa Leme ficava na Ladeira Ari Barroso lá no Leme aí eu conheci Cristina Martinelli, conheci Nora Esteves. A  aula das 10 ao meio dia tinha um "break" pra comer alguma coisa na cantina e a parte da tarde, dependendo  do escalonamento do ensaio, ficávamos até mais ou menos quatro, cinco horas da tarde. Nessa primeira fase foi o Copa Leme depois quando eu voltei da Europa o corpo de baile já estava ensaiando no Teatro Villa-Lobos na parte de baixo onde é o subsolo do Villa-Lobos e aí inauguramos a sala versátil que era uma sala que tinha atrás do Teatro Villa-Lobos e era a sala grande para o corpo de baile fazer aula. Então ensaiávamos Romeu e Julieta que era um ballet grande que todo o elenco estava em cena ensaiávamos naquela sala e eventualmente e passou a fazer aula lá.

CURIOSIDADE
Me lembro sim, me lembro de algumas coisas, me lembro, por exemplo no final da primeira temporada que a D. Tânia(Tatiana Leskova) resolveu brigar com com os bailarinos e pediu para todos se submeterem a um teste. Todos os bailarinos tinham que dançar Sylphides, não era um ballet qualquer era logo Sylphides,  aquela roupa de poeta e fazer aquela coisa dificílima e linda. Eu tinha um problema no pé, logo que eu comecei a dançar eu tive um acidente, quebrei meu pé em seis lugares. Disse ao médico que eu era bailarino e queria saber quando eu poderia dançar de novo e ele bateu no meu ombro e disse vamos torcer para você andar direito depois a gente pensa em dançar, o negócio está complicado. Eu percebi que eu não ia poder fazer dança, fiquei 1 ano e meio sem poder colocar o pé no chão, andava de muletas um ano inteiro com gesso e aí resolvi fazer outra coisa resolvi fazer arquitetura porque eu não podia ficar parado. Mas a medida que depois eu fui fazendo arquitetura meu pé foi ficando melhor fui voltando a fazer aula voltando a forma. Então fui para o Bejart e quando eu voltei tive que fazer esse exame para o Theatro Municipal. Meu pé estava doendo muito. Fui conversar com ela, que não ia poder fazer como eu gostaria. “Não me interessa meu filho você tem que dançar” e mexeu a boca do jeito que só ela sabe fazer e pensei - é a mais charmosa do mundo vou fazer isso pra ela. Começou a tomar remédio contra a dor e não senti nada . Começoui a ensaiar a mazurka eu se sentiu um Baryshnikov, fazia qualquer coisa o corpo estava fácil mas eu estava cheio de antiinflamatório. Dançou, todos os bailarinos fizeram a Mazurka e não tomei mais antiinflamatório, no dia seguinte não conseguia andar. Levantei da cama botei o pé no chão meu pé e o tornozelo estava desse tamanho (gesto mostrando um tornozelo inchado), enfim eu fiz em cima do antiinflamatório na hora que eu parei de tomar o anti-inflamatório vi como seria a vinha vida dali pra frente, porque vida de bailarino é assim mesmo você está a cada dia com uma parte do corpo machucada.  Valeu porque me alertou oh! Essa coisa de que bailarino está sempre bem em cena isso não existe a gente está sempre com uma grande dor que a gente finge que não está sentindo e dança.

VOCE LEMBRA QUEM FORAM OS DIRETORES E MAITRES DE BALLET?
Claro. Quando eu entrei eu fui chamado pela Tatiana Leskova eu liguei pra ela de Paris eu acho, ou Bélgica, Bruxelas. Briguei com o Bejart não vou ficar aqui tem lugar pra mim na companhia?  Ela falou vem pra cá que eu tenho lugar para você. Peguei o avião voltei da Europa. Tatiana Leskova era diretora nessa época os nossos maîtres eram Emilio Martins, Dennis Gray, Jorge Siqueira não , Jorge foi depois. Depois o Corpo de Baile brigou com a D. Tania tirou a D. Tânia  de diretora. Entrou José Moura para ser diretor do Corpo de Baile, está claro que é uma época bem confusa para o Corpo de baile. Nessa época eu acho que continuava Emilio (Martins)  e Dennis (Gray) de maîtres. Logo depois eu senti que o Corpo de baile estava muito confuso, com muito problema e a Márcia (Haydée) veio com o Ballet de Stuttgart pra cá e eu fiz prova e fui embora. Quando eu voltei com o ballet de Stuttgart que ela veio montar Romeu e Julieta aqui, Márcia Haydée com Rick (Richard Gragun) e todo o elenco para montar o ballet aí já era Dalal (Achcar) diretora. Fazia aula com Mr. Doyle, faz com Jorge Siqueira e de vez em quando com Miriam Guimarães. Eram os três e ensaiadores também dependendo do ballet.  Jean-Marie Dubrull que veio ensaiar o triunfo de Afroditi (Carl Orff/Jean-Marie Dubrull)

ENSAIADORES
Dos principais comigo Emilio (Martins) que foi quem me ensinou  Cantábile,  Sagração da Primavera (Norbert Vesak.), Quebra Nozes (Neves). D. Tânia (Tatiana Leskova) o Grand Pas de deux de Quebra Nozes, Mr Doyle  - Lago dos Cisnes. Helfany Peçanha(mae da Jania Batista) quando fomos para Jackson, Irene Orazen de vez em quando tomando conta de um ensaio, Soninha Villela , Wandinha  (Wanda Garcia) e Bertha Rosanova.  

VOCE LEMBRA QUEM TOCAVA NAS AULAS
Eu lembro na D. Eugenia que tinha a D. Irene que era uma russa famosa e tinha uma outra D. Corália. No Theatro eu não me lembro, ah! Claro que eu me lembro uma de cabelo preto linda, toda chique, toda bonitona, ah Ilka Jardim claro ela ia toda bonitona cada dia que ela chegava eu aplaudia ela entrava como uma rainha e dizia bom dia meus meninos e ia passando


COREOGRAFO DE FORA MONTAR ALGUM BALLET
Norbert Vesak -  Sagração da Primavera e e Belong para o Graham Bart, Jean - Marie Dubrull - Triunfo de Afrodite do Milton Florenblec ele era assistente dele, veio dançar aqui, veio a Georgette Tsinguirides - coreóloga do John Cranko, Romeu e Julieta.
Hillary Cathrray e Voitec Lovsky - professores (nomes nao confirmados).
VOCÊ LECIONA OU LECIONOU BALLET OU LECIONOU BALLET OU ALGUMA COISA DERIVADA DO BALLET
Dei aula muitos anos de alongamento mas que na verdade era um alongamento baseado em dança porque era a minha formação. Procurava usar os exercícios mais simples das melhores coreografas que eu tinha dançado de modo a fazer com quem que não fosse bailarino, não fosse profissional de dança tivesse algum contato com o movimento corretamente direcionado. Gostava de fazer isso dentro de uma musica. Na verdade eu dava uma aula de ginástica que se transformava numa dança quando eu criava uma coreografia. Os alunos saiam da aula achando que estavam dançando . O movimento corretamente colocado na  musica, ganha uma dimensão diferente, em vez de ser só um movimento ele passa a ser arte. 

VOCE JÁ COREOGRAFOU
Depois que eu deixei o Theatro Municipal os amigos foram para S.Paulo fazer teste para Chorus line. Aqui no Rio de Janeiro ia abrir um grande teatro, um grande cabaret chamado Scala Rio. Queria fazer cabaret na minha vida, sempre tive "um pé" no cabaret e fui fazer. Fiz teste com o Juan Carlo Berardi e eu entrei para o Corpo de baile. Inauguramos esse show em 1984. Era um show com Grande Otelo e Watusi , uma casa grande no Leblon, 100 pessoas e nos trabalhávamos sete dias por semana.  Juan Carlo e o assistente dele saíram da produção e o Sherman (Mauricio) que era o diretor precisava de uma pessoa que ficasse responsável pelo corpo de baile e me convocou para ser responsável pelo corpo de baile. Aceitei mas como uma condição.  Coloquei que era um absurdo pedir para nós trabalharmos sete dias por semana. Então a minha proposta era - vou diminuir o número de pessoas em cena e criar uma rotatividade entre os bailarinos de modo que se consiga dar uma folga semanal para todos os bailarinos ( antes nao havia nenhum dia de folga trabalhavam sete dias por semana). Cada dia um folga.  Você tem uma semana pra fazer. Em uma semana tive que pegar a coreografia do Juan Carlo Berardi e fazer com que todos os bailarinos soubessem todos os lugares para todo mundo revezar e todo mundo ter essa folga. Então trabalhamos muito. Terminavamos o show onze horas da noite e ficavamos até as cinco horas da manha ensaiando no palco. Ninguém queria sair porque tinha que voltar no dia seguinte as seis/sete da tarde. Em uma semana realmente consegui fazer a tal da rotatividade e todo mundo passou a ter uma folga por semana. Com isso, sem perceber, comecei a mexer com cem pessoas em cena - virei coreografo de um dia para o outro dirigindo um corpo de baile de cem pessoas. Foi assim e foi uma escola  maravilhosa e logo depois disso nós já estávamos com esse revezamento montado. Coreografei para Xuxa, um espetáculo de tarde para crianças nos fins de semana; para turma do Balão mágico vários espetáculos de criança. Fiz muita coreografia para cinema também e para escola de samba. 

VOCE JÁ REMONTOU ALGUM BALLET?
Não. 
A única razão da gente fazer dança no Brasil é por amor, não tem outra razão. Então me lembro de gente dizendo mas como você consegue aprender a coreografia é porque isso não é nenhum problema, é um grande prazer quando se gosta daquilo e principalmente se a coreografia é boa e a música é bonita uma coisa faz parte da outra você vê aquilo, eu acho que eu não sei mais , se botar um pedaço de Quebra Nozes ou Cantábile aqui acho que em 1 minuto vai sair, você vai ver o pedaço da musica e vai sair a coreografia, aquilo está dentro da gente, é uma profissão muito poderosa.  Me sinto muito especial ou muito privilegiado por ter sido tocado por esta arte assim e ter dedicado 30 e tantos anos da minha vida pra isso apesar de hoje querer fazer coisas diferentes , pensar em outras coisas mas eu acho que é um privilégio poder trabalhar com arte porque você trabalha com aquilo que você gosta. Era uma paixão para mim estar fazendo aula no corpo de baile e chegar Macia Haydée e Makarova pra fazer aula comigo

NO PRÓPRIO TEATRO VOCÊ FEZ ALGUMA OUTRA COISA ALÉM DE DANÇAR?
Não porque na minha época nós éramos contratados não éramos funcionários públicos então estavamos lá para dançar especialmente para dançar. Lembro inclusive, olha que bobagem , quando o Guilherme Figueiredo estava lá foi montar o nosso Sarau de Sinhá que era um ballet do Dennis Gray e me coube um papel que era um papel de um poeta e eu tinha que dizer uma poesia que era um texto do Guilherme Figueiredo.  Lembro de chegar lá morrendo de vergonha e dizer eu sou bailarino, eu sou contratado pra dançar eu não sei falar em cena eu não vou falar em cena. Anos depois eu estava fazendo Faculdade de Teatro, tendo aula com voz, não teria sido nenhum problema mas, dançar era muito difícil pra mim, parecia fácil porque diziam que tinha corpo muito dotado pra dançar mas, na verdade, dançar é muito difícil e para um homem de 1 metro e noventa e cinco. Dança clássica é mais difícil ainda, era sempre um desafio muito grande estar num corpo de baile de dança clássica tendo que fazer aquela técnica toda. Então qualquer coisa que não fosse aquilo custava muitíssimo e finalmente na hora de fazer esse poeta botaram uma gravação e eu fiquei fazendo a mímica porque isso eu não ia conseguir falar certamente naquela época se eu tivesse falado no palco do teatro Municipal minha voz não ia sair, não ia sair voz nenhuma de nervoso. Claro que hoje em dia eu preferiria falar do que dançar


TEM ALGUMA COISA QUE VOCE QUEIRA FALAR , ALGUMA MENSAGEM ....

Tem uma coisa sim Quando você me telefonou dizendo o trabalho que estava fazendo eu fiz questão de participar porque eu acho que é importantíssimo não saber o que o Antonio Negreiros fez, eu não tenho a menor importância , a dança no Brasil ela está absolutamente paralela ao meu trabalho somos mais uma pessoa nesse mundo mas é muito importante que a história da dança no Brasil seja contada , fique viva e esse é o projeto de vocês é pegar a mim que tenho 35 anos profissão mas pegar gente de gerações anteriores e pegar gente mais jovem do que eu e contar realmente a história desse ballet no Brasil que finalmente é uma história tão bonita é uma história ascendente de uma maneira tão emocionante . Quinta feira passada eu fui assistir ao Theatro Municipal assistir o Ballet de S. Paulo. O ballet de S. Paulo dança uma coreografia do Jiry Killyan que eu amo que trabalhou comigo no ballet de Stuttgart. Agora eu tive o prazer de ver Marcelo Gomes dançar - é um orgulho, é um prazer, é extremamente emocionante para mim sentar no Theatro Municipal  e ver um menino brasileiro saído de Manaus ser o primeiro bailarino do American Ballet Theatre que foi  a minha companhia ídolo quando eu estava dançando e ver esse menino ser considerado um dos maiores bailarinos do mundo Existe um Gala que acontece nos EEUU chama “The kings of the dance” – Os reis da dança – onde uma equipe muito selecionada escolhe os bailarinos de cada companhia para fazer uma Gala. O Marcelo Gomes há quatro anos faz parte desse elenco ele é muito importante na história da dança  mundial esse menino brasileiro hoje é muito importante Você tem no Royal Ballet o Thiago Soares que também e uma história muito semelhante e a pouco tempo atrás tinha no Bejart o William Pedro que era um bailarino sensacional um dos mais importantes em quantidade de técnica e beleza de técnica . Quando em 1980 fui tentar uma vaga no corpo de baile do  Ballet de Stuttgart que era uma companhia importante, mas enfim eu estava tentando um lugar num corpo de baile, vejo 30 anos depois que temos 3 bailarinos brasileiros nas 3 maiores companhias de ballet do mundo é uma coisa muito emocionante A história está se desenvolvendo hoje. Temos a escola do Bolshoi em Joinville. Hoje o Brasil é um celeiro, solta gente de dança para todo mundo e gosto de pensar que eu fiz parte dessa história. Bem ou mal eu comecei lá fui pedir pra D. Márcia tem um lugarzinho pra mim aqui? Eu sou alto mas de repente tem uma alemã comprida aí pra dançar comigo então 30 anos depois estamos nesse patamar. É assim vocês tem obrigação de escrever isso e é por isso que eu fiz questão de participar do trabalho de vocês. 

Um comentário:

  1. Fiz poucas aulas com ele. Grandes momentos! Ler o texto me fez lembrar da voz e do jeito de ser. Deu saudade. Muita admiração. Beijos!

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