Laura Prochet e João Wlamir


Laura Prochet e João Wlamir

 Os dois responderam juntos a entrevista

FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Laura (1968) – começou a estudar ballet na Studio de Tatiana Leskova e sua formação foi feita com os professores dessa escola - Tatiana Leskova, Aldo Lotufo e Moema Correa (atualmente Moema Ameon). Entrou para o Corpo de baile em 1985. Sua escolha foi ser bailarina clássica e o caminho no Brasil era esse. Seus pais eram do Coro do Theatro Municipal e sempre teve paixão especial pelo Theatro.

João (26/08/1956) – Entrou para o Corpo de baile em 1981. Fazia Educação Física e começou a fazer dança – Jazz – no Ballet Dalal Achcar para aprimorar sua Educação Física. Lá disseram que ele “ tinha um certo talento” e que deveria fazer aula de clássico para aprimorar o Jazz. Inicialmente não quis, mas depois achou que precisava e gostou. Fez dois anos de aula de clássico e abriram audição para o Corpo de Baile do Theatro Municipal RJ. Todos os colegas iam fazer, mas eles eram muito bons e ele se considerava médio, mas mesmo assim resolveu fazer. Ficava ensaiando escondido, com Clermont Aguiar, até as 11 da noite. Acabou sendo aprovado, mas consciente de que não seria um bom bailarino clássico, mas que poderia fazer papeis de “caráter”. Entrou com essa condição. Fui me aprimorando e percebi que a dança seria melhor forma de expressão do que o Teatro. Como professores teve todos os professores do Ballet Dalal Achcar e depois, já no Theatro, Desmond Doyle, Jorge Siqueira e Jane Blauth. Fez também aulas com Tatiana Leskova, depois do expediente do Theatro. Eu devo toda a minha formação profissional ao Theatro Municipal.

ROTINA
Inicialmente de 10h as 18h, com um intervalo para almoço e mais tarde trocaram o almoço por um intervalo de 15 minutos para um lanche e o horário passou a ser de 10h as 16h. Durante as temporadas o horário mudava. Inicialmente começaram trabalhando fora do Theatro devido as obras que aconteciam no Theatro e depois voltaram a trabalhar dentro do Theatro. BALLETS QUE DANÇARAMJoão revela que o ballet ???????? foi o que mais se sentiu bailarino, era dentro do meu estilo. Laura revela que o ballet que mais gosta é Giselle, mas que na verdade gosta de todos, Lago dos Cisnes, D. Quixote, Raymonda. O que importa é dançar então qualquer balé era maravilhoso. Nós dançamos num período muito fértil do Theatro. Dançamos ballets de repertorio e também tivemos grandes expoentes da dança montando ballets para a Cia. Laura revela que Les Noces (Bronislava Nijiinska) e Sagração da Primavera (Nijiinski), foram um marco na vida dela. 

PRIMEIROS BAILARINOS
Paulo Rodrigues, Francisco Timbó, Marcelo Misailidis, Nora Esteves, Cristina Martinelli, e muitos outros bons bailarinos convidados – Jean-Yves Lormeau, Fernando Bujões. 

CLIMA DA CIA.
Como houve uma mudança radical nos membros da Cia, quase 50%, inicialmente era super enérgico. Parecia que queriam estabelecer uma nova ordem na Cia., Mas não sabia que ordem era essa, não conheci a Cia antes. Mas havia claramente uma disposição tanto da direção como da Cia. Em estabelecer essa nova ordem, esse novo formato da Cia. Na nossa profissão vamos sempre trocando as pessoas. Umas vão envelhecendo e saindo, você não tem como pegar o conhecimento dessa pessoa mais velha. Você poderia usar isso, e esse revezamento vai transformando a Cia.Laura revela que quando entrou era CLT. Todo ano ficávamos esperando o “bilhete azul”, poderíamos ser mandados embora. João confirma que só tinham o seu trabalho como forma de garantia. Na década de 1980 nos tornamos estatutários mas para nós, nada mudou. Já estávamos habituados a trabalhar muito. Entretanto a geração que veio depois, onde já entravam como estatutários, foram se aposentando muito cedo, numa época que não precisariam se aposenta. Esse é o problema do artista/ funcionário publico. Laura nos conta que quando entrou para o Corpo de baile tinha 16 para 17 anos, o que queria era dançar independente de ser CLT ou estatutário. O ideal e que todo bailarino/funcionário público tivesse uma cabeça de artista.

FATOS PITORESCOS – OS “PALHAÇOS” DA CIA.
O Paulo Arguelles é essa pessoa até hoje, é a alegria da Cia. Preparava uma diagonal para a esquerda e saia para o outro lado. Via que o astral da Cia não estava bom e virava o jogo, deixava todos mais felizes. 

OUTRAS ATIVIDADES DENTRO DO BTM
Laura revela que foi só bailarina. João, quando o Jean-Yves Lormeau dirigiu a Cia. o convidou para ser ensaiador. Sabia que ele tinha um grupo de dança – o DC – e fez o convite. Como ensaiador remontou vários ballets para a Cia. 

DIRETORES DO BTM
Jorge Siqueira, Tatiana Leskova e Richard Gragun. Depois houve uma época em que entravam pessoas para cobrir a falta de alguém – Marcelo Misailidis, Fauzi Arap, Sergio Marshall, mas ficavam pouco tempo. 

MENSAGEM
João alerta para o fato de a Cia. ter sempre altos e baixos. Não podemos acreditar que a Cia sempre vai numa curva ascendente, ela sobe e desce. Precisamos ficar atentos para não achar que está tudo bem e relaxar.Laura nos conta que foi muito feliz ali. Temos também altos e baixos mas agradeço a Deus por poder ter estado ali. Somos eleitos por estar ali, é um palco abençoado, é um palco diferente. 

RECADO AOS BAILARINOS
João nos conta que tem uma imagem que acha muito legal. Temos essa coisa, por sermos artistas que somos quase semideuses, mas ao mesmo tempo não podemos perder a humildade. Quando terminamos um espetáculo, tomamos nosso banho e passamos pelo mesmo palco, sem cenário, sem nada, aquele grande palco vazio. O equilíbrio entre essas duas sensações e que faz um grande artista. Outra coisa – o bailarino tem obrigação de conhecer a história do BTM, quem eram os bailarinos, como era o Corpo de baile. Isso dá uma referência, não podemos achar que o BTM começou conosco. Esse tipo de reconhecimento todo bailarino deve ter.

Laura nos diz que é trabalhar, trabalhar, trabalhar. Trabalhando, melhorando porque nunca está bom. Quando acharmos que está bom é melhor parar. Saber equilibrar esse sentimento de vaidade (artista é vaidoso) com a humildade de ouvir quem está na sua frente. Ballet não é uma profissão autodidata, tem que ter sempre o olho de alguém

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