Vilma Rocha Lima

Vilma Rocha Lima




Vilma Maria da Rocha Lima, nasceu no dia 1º de novembro de 1948, Rio de Janeiro.

Como e onde você iniciou os seus estudos de balé?
Minha mãe fazia ginástica com um sueco, no sexto andar de um prédio em Copacabana, onde no quinto andar funcionava a academia da Tatiana Leskova. Era criança e ficava curiosa para ver o que estava acontecendo lá embaixo, a música, aquela coisa bonita. Descia, ia para a barra e ficava imitando as meninas. Dona Tânia ficava só "botando pilha". Chamou a minha mãe e disse que eu era uma graça e tinha muito talento e tinha que fazer balé. E a minha disse: “A senhora nem pense! Nem quero que ela desça mais.” Mas não adiantava porque eu ia lá para baixo e Dona Tânia começou a me preparar. Primeira posição, começou a me ajeitar. Quando teve prova para a Escola de Dancas, ela insistiu para minha mãe me inscrever. Inicialmente houve uma negativa mas Dona Tânia insistiu e minha mãe acabou me inscrevendo. Éramos 67 candidatos. Fiz a prova, o “físico”, aquelas provas de entrada. Eu lembro que a Nora tirou em primeiro e eu tirei segundo lugar. E a minha mãe ficou impressionada. Dona Tânia falou: “Eu estou falando para você! Essa menina já está dentro!” Eu tinha 7 anos. E assim eu comecei o balé. E eu gostei realmente, me envenenou, não consegui mais sair. Mas o meu pai sempre foi muito contra. Era um médico muito conceituado, diretor de hospitais. A família dizia que era um ambiente que não prestava, diziam que ele tinha que me forçar a não ir. Mas sabe como é mãe. Ela dizia: “Ah, deixa. Ela estuda, ela está bem, deixa ela fazer.” Mas ele sempre foi muito contra, muito mesmo.


E a sua formação profissional? Quem foram seus professores?
Arlete Saraiva, Lydia Costallat,Tamara Cappeller, Reginaldo Vaz, Consuelo Rios.

E como foi o seu ingresso no Corpo de Baile? Em que ano você entrou? Como foi isso?
A minha história é a seguinte: como eu sempre fui primeira aluna na Escola de Dança, eu ganhei o prêmio Nijinsky com 15 anos. Em vista disso não fiz o nono ano na Escola. Eu fui direto do oitavo para o Corpo de Baile.  Tinha uns 16 anos. Na época estava chegando o (Hector) Zaraspe. Fizemos uma prova para o Corpo de Baile. Passei, junto com Nora, que foi minha contemporânea, fomos colegas. Ele ficou encantado e queria que eu fosse para a Companhia nos Estados Unidos. Foi na época que Nora foi, mas eu não fui porque meu pai não deixou. Eu perdi essa oportunidade. E fiquei no Corpo de Baile. Fui dançando como estagiária, porque eu era muito nova. Eu estagiei muito tempo, uns 5 anos. Era difícil.

E você lembra quando foi que você entrou?
Não sei se foi 1965, por aí.

E qual era a rotina do Corpo de Baile?
Fazia aula e muita substituição.  Ficava de “segundo cast”, porque era estagiária. Era uma oportunidade. Um dia a Vera Brener, estava ensaiando "Mozart”, se "atacou" com o William Dollar, que estava montando. Era eu a substituta dela. Acabei entrando em seu lugar. Foi aí que comecei a me projetar.  Passei a ser do Corpo de Baile. 

Durante esse tempo que você participou do Corpo de Baile, que período que você considera que foi o melhor e qual você não considera tão bom.
Eu tive tantas coisas boas. Eu tive muita sorte. Os coreógrafos gostavam porque eu tinha uma técnica muito rápida, então sempre dancei coisas muito rápidas. Fiz solo de “pas de deux campestre”, fiz o “pas de quatre” e “pas de trois” do “Lago”. “Magnífica” do Oscar Araiz , o “pas de trois” que até a Sonia (Villela) fez comigo. Sempre esses solos. O Skibine também, eu ganhei “Daphnis” com ele, fiz um “pas de deux” com Armando Nesi, “Pássaro de Fogo”. Com o Garcia então foi a melhor época. Ele se apaixonou por mim porque achava que eu tinha uma técnica ótima. Inclusive dizia que eu tinha que fazer aula com os rapazes. Tive muitas oportunidades com ele. Todas as Variações Sinfônicas, todos os balés eu dancei.

Quem eram os bailarinos da sua época?
Eu passei por tanta gente, cheguei com tanta gente. Mas a que mais fez par comigo foi Soninha (Sonia Villela). Margarida Mathweus, Geni ???, Karen???, Cristina Costa, dançamos muito juntas. Sempre o grupinho das baixinhas. 

Você poderia citar os nomes dos diretores do Corpo de Baile no período em que você atuou como bailarina?  E os diretores dos  balés que você dançou pelo Corpo de Baile que foram mais importantes para você
Olha, eu amei o Dollar. William Dollar. Que aula! Que técnica! Zaraspe foi maravilhoso. Garcia também foi maravilhoso. Teve um russo também, que eu não me lembro o nome, mas foi maravilhoso. Eu fui feliz, muito bom.

Você já lecionou balé?  
Não.  nunca foi o meu forte.

Já coreografou ?  
Não.

Já remontou balés? 
Não. Eu comecei com a Maria (Palmerim) do balé de Portugal, ela me ensinou a remontar Les Nocces. Foi com ela que eu comecei a aprender. Dançava, de repente, quis parar.  Jean-Yves ( Lormeau) insistiu que fizesse alguma coisa para o meu currículo.
 Ele tinha mesmo essa preocupação.Você não é a primeira pessoa que menciona essa preocupação dele.  É o que acontece na França. Aos 40 anos o bailarino para de dançar, mas ele tem que fazer outra coisa.

E você já realizou outras atividades aqui no Theatro?
Ensaiadora. Uma coisa boa foi fazer a Faculdade de Licenciatura em Dança da UNIVERCIDADE. Foi muito engraçado, porque eu parei porque estive doente, tive, câncer. E eu pensei - tenho que fazer alguma coisa!”  Me inscrevi, fiz a prova e passei. Cheguei lá e a Vera Aragao falou: “O que você está fazendo aqui?” e eu disse: “Vim ver o que eu tenho pra aprender.” E foi muito bom, abriu um leque de informações. Foi ótimo porque, nós aqui estudamos sempre clássico, sempre clássico... Sim, o Theatro também tem o contemporâneo. Mas lá é que eu abri mais o meu horizonte em relação ao contemporâneo. Porque eu, realmente, era bem fechada para esse tipo de dança. Eu até trabalhei com a Lia Rodrigues no Balé Resta Um, e fui ensaiadora dela. É muito difícil trabalhar com contemporâneo, mas foi bom. Foi muito boa a faculdade, para mim. Eu adorei. Sinto falta. Eu também fui muito feliz pelo seguinte: você já chega lá com uma bagagem. Então, você encontra colegas, umas meninas que não tinham noção nenhuma de dança. Acham que vão chegar ali e vão dançar um tango, um bolero... Mas a faculdade também tinha aula de clássico. E elas diziam para mim: “Wilma, pelo amor de Deus, eu não sei nem o que é isso! Primeira posição? Ajuda, ajuda!” E eu ficava depois da hora dando aula para elas. Conseguiram se formar porque eu ajudei muito. Tinham uns trabalhos, apresentações de balés, divisões de tudo: coreógrafos, músicos... Então, tínhamos provas e eu treinava com elas antes. A prova saía tranquila, muito bom.

Acho que terminamos. Queríamos agradecer a você, por tudo.

Eu estou muito feliz, muito grata a tudo que eu já passei. Acho que a maior felicidade que eu já passei foi ter renascido. Porque Deus foi muito bom para mim. Eu estou aqui hoje, feliz. Terminei a minha dança, mas estou sempre aqui. É muito bom.


 Ótimo, querida, muito obrigada. 

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