Tatiana Leskova
Nascimento:06/12/1922
Entrevista em 30 de Janeiro de 2012
Entrevista em 30 de Janeiro de 2012
Como você chegou ao Brasil e em que ano.
Foi com o Ballet Russo que eu cheguei aqui. Eu sei isso de cor,
porque já falei tantas vezes.
Isso que dá ser muito importante. Depois em que circunstâncias começou a
trabalhar no corpo de baile. Foi um convite?
Foi um convite. Mas isso eu vou contar direitinho.
Como era a rotina do corpo de baile?
Muito trabalho, muito mais do que agora.
Horário de entrada, saída, ensaios. Durante quanto tempo você participou
do Ballet do Theatro Municipal. Você trabalhou na direção e também como
remontadora. Foram duas funções.
Remontadora, coreógrafa...
Professora. Só faltava limpar o chão. (Risos) Fazia roupa de
ballet porque não tinha.
Depois vamos perguntar sobre curiosidades significativas
dessa rotina. Suas apresentações como bailarina dentro do Theatro, dentro do
Corpo de Baile.
Dentro do Corpo de Baile, não. Como primeira bailarina. É
diferente. Na realidade, eu tive sorte. No Ballet Russo eu não era Corpo de
Baile.
Depois passei para a parte de maître. Como foi que você
começou a trabalhar como maître de ballet, depois quais os ballets que você
coreografou para o Corpo de Baile, quais as coreografias que você remontou.
Em primeiro lugar eu gostaria muito de agradecer a você, por você ter
nos recebido.
O prazer é todo meu.
Então vamos lá. O nome completo.
Tatiana Leskova. Mas, na verdade, meu nome na certidão de
nascimento é Tatiana Hélène Leskov.Eu nasci
em Paris. E não fui eu que me registrei, foi meu avô que foi me registrar. A
pessoa encarregada de escrever a minha certidão não entendeu como Leskova é
feminino de Leskov. Não adiantou nada, eu tenho nome de homem, Leskov. E eu não
sou nada Hélène, porque não fui batizada Hélène. Hélène é nome da minha mãe. E
meu avô, no russo francês torto dele quis dizer “o nome da mãe e do pai”. E ao
invés de falar sobrenome ele falou nome. Por isso é que eu sou Hélène, mas eu
nunca fui batizada Hélène. Mas, como eu sou ortodoxa, eu posso usar só o nome
com o qual eu fui batizada. E eu fui batizada como Tatiana. Eu nasci no dia 6
de dezembro, 1922, em Paris, França. No momento eu estou com 89 anos e
caminhando, se Deus quiser, pra 90.
Como foi que você iniciou os seus estudos de ballet? Como e onde?
Eu iniciei meus estudos de ballet em Paris, porque eu vivia lá até a guerra. No início da guerra eu saí com o Ballet Russo para a Austrália.
Mas eu vou voltar a sua pergunta. Minha mãe morreu tuberculosa, aos 32 anos. E
eu tive uma pré-infecção tuberculosa aos 5. Então, quando minha mãe faleceu eu
tinha 9 anos e meio. E, devido à parte psicológica e física – eu era magrinha,
não tinha esse físico que eu tenho agora e que eu tive depois, adolescente.
Minha mãe era muito alta, mas eu deixei de crescer, infelizmente. Estive no
sanatório, etc, etc. A minha mãe faleceu em agosto, e no fim de setembro o
médico recomendou que eu fizesse algum exercício físico para abrir a minha
caixa toráxica, que era muito pequenininha, devia fazer ginástica. Meu pai –
que quando era jovem, ainda estudante, na Rússia, em São Petersburgo – era
muito fã de ballet, como todo estudante na época, porque era moda ser fã de
ballet. (meu pai nasceu em 1892) achou melhor me colocar no ballet, para fazer
exercício. Além disso, tinha a parte econômica. Nós não tínhamos um tostão,
porque éramos refugiados, sem passaporte nenhum. Perdemos a nacionalidade
russa. A nacionalidade era soviética. Os franceses não deram nacionalidade.
Meus pais não tinham nacionalidade. Eu era apátrida. Mas acontece que, como eu
nasci na França, aos 13 anos, quando comecei a ter que viajar com o
"Ballet de la Genesse", que se chama Ballet da Juventude, eu
precisava do passaporte. Optei pela nacionalidade francesa. Porque eu tinha
nascido na França e tinha direito de optar. Eu sou francesa por opção, não por
nascimento. Mas vamos voltar. Meu pai tinha um grande amigo do tempo de São
Petersburgo, o príncipe Troubetzkoy . Ele
era casado com Liubov Egorova que era a primeira bailarina no Marinsky, casados
depois que fugiram da Russia. Um nobre não podia casar com uma bailarina. Então
eles casaram só depois que acabou o czarismo. Apesar de eles serem muito
czaristas. Mas era lei, a bailarina não podia casar com um nobre. Quando dizem
que casou com um nobre no tempo do Czar, é mentira, não podia. O marido ou a
mulher tinham que renegar sua nobreza. Comecei com Liubov Egorova. Ela foi
minha mãe do ballet. Porque eu não tinha mais mãe, minha mãe tinha morrido. E
ela foi o meu dia, e graças a ela eu me formei, trabalhei e vivi da minha
dança. Até que eu parei. Pra mim ela foi tudo, mais do que qualquer coisa, eu
devo a ela tudo. Eu tinha uma base muito boa da escola do Marinsky. Que era de
Vaganova. E Vaganova era dois anos mais
jovem do que a minha professora, mas era da mesma escola. Era a mesma base, só
que Vaganova organizou o método. Porque lá, cada bailarina ensinava
um pouco. Eram vários professores no Marinsky. Cada professor dava um
pouco o seu método. E as bailarinas tinham a base clássica e dinamarquesa.
Porque Johansson foi aluno do Bournonville.
Quer dizer, todo o método russo não é russo. Ele é italiano, francês, dinamarquês e russo. Porque o russo pegou esses vários métodos, juntou e fez desse método o seu. O russo se mexe de uma maneira diferente, respira de uma maneira diferente, se movimenta de uma maneira diferente. Pode ser por causa da dança folclórica, muito mais cabeça, muito mais aplomb coisa que geralmente muitas vezes falta em outras escolas. Porque o aplomb é natural, na dança russa é assim. Você dança com o movimento, você usa muito a cabeça, muito o corpo, muito tronco. Dizem que na Rússia você dança assim, da cintura pra cima e trabalha da cintura pra baixo. Comecei a aprender a dança com madame Egorova. Mas acontece que fazia relativamente pouco tempo que madame Egorova tinha a academia dela. Academia é uma palavra muito grande, estúdio, em Paris. Só tinha adultos. Comecei a minha primeira aula com adultos. Só seguia os outros. Mas como? Porque eu tinha olho. Acontece que eu tenho que voltar para uma história muito diferente. Minha avó paterna tocava piano num estúdio de ballet. E como meu pai e minha mãe tinham se separado logo quando eu era pequenininha, e eu tinha uns dias para passar o fim de semana com o meu pai, eu ia no estúdio onde minha avó paterna tocava piano, sentava no chão e via. Eu tinha 4, 5, 6, 7 anos. Porque eu comecei com 9 anos e meio. Eu tinha a memória visual. Eu via as aulas cada sábado, ou quase. Então você sem querer sente alguma coisa.
Quer dizer, todo o método russo não é russo. Ele é italiano, francês, dinamarquês e russo. Porque o russo pegou esses vários métodos, juntou e fez desse método o seu. O russo se mexe de uma maneira diferente, respira de uma maneira diferente, se movimenta de uma maneira diferente. Pode ser por causa da dança folclórica, muito mais cabeça, muito mais aplomb coisa que geralmente muitas vezes falta em outras escolas. Porque o aplomb é natural, na dança russa é assim. Você dança com o movimento, você usa muito a cabeça, muito o corpo, muito tronco. Dizem que na Rússia você dança assim, da cintura pra cima e trabalha da cintura pra baixo. Comecei a aprender a dança com madame Egorova. Mas acontece que fazia relativamente pouco tempo que madame Egorova tinha a academia dela. Academia é uma palavra muito grande, estúdio, em Paris. Só tinha adultos. Comecei a minha primeira aula com adultos. Só seguia os outros. Mas como? Porque eu tinha olho. Acontece que eu tenho que voltar para uma história muito diferente. Minha avó paterna tocava piano num estúdio de ballet. E como meu pai e minha mãe tinham se separado logo quando eu era pequenininha, e eu tinha uns dias para passar o fim de semana com o meu pai, eu ia no estúdio onde minha avó paterna tocava piano, sentava no chão e via. Eu tinha 4, 5, 6, 7 anos. Porque eu comecei com 9 anos e meio. Eu tinha a memória visual. Eu via as aulas cada sábado, ou quase. Então você sem querer sente alguma coisa.
Não deixa de ser uma educação. Você não fez, mas assistia.
Assistia sim. Eu me lembro que tinha barra, que tinha centro, mas
os passos eu não tenho ideia nenhuma. Mas então, eu fiz a aula com Egorova
durante alguns meses. E ela falou com um professor, (Nicolas Tremiov -
confirmar nome) para me dar aula
particular, de graça. Trabalhei com ele durante quase dois anos. Todo dia aula
particular. Acho que, devido a isso, aula particular com um professor que tinha
uma bagagem, ajudou bastante. Dois anos depois eu voltei para Egorova, que
estava trabalhando com crianças da minha idade, eu tinha 11 anos talvez. Quando
eu tinha 13 anos e meio teve o concurso para a Opera Cômica. Meu pai tava numa
situação difícil de dinheiro. E Egorova, que era minha mãe, sabia que eu
precisava trabalhar. E ela me fez concorrer. Eu fiz o concurso e passei em
segundo lugar, mas como estagiária. Porque lá também não podia ser do Corpo de
Baile antes dos 16 anos. E eu fiquei na Opera Cômica até uns 15 anos e meio.
Quase dois anos. Até que eu entrei pro Ballet Russo. Com 16 anos. E saí com 22.
O que eu aprendi na minha vida como profissional, tudo que eu sei, tudo, minha
cultura da dança, cultura de pintores, da música, tudo veio do Ballet Russo.
Cheguei aqui aos 22 anos. E aqui, você sabe como é, a gente não tem um campo
muito grande, especialmente lá em 1945, ou 44. Muito árido.
E dos seus 16 anos até os 22 que você ficou no Ballet Russo...
Viajei o mundo todo. E eu vou mostrar pra vocês quantos ballets a gente
dançava por ano, quantos espetáculos. É inacreditável. Porque, com o evento da
guerra, eu voltei para o Ballet Russo em 1939. Março, abril, maio, junho,
julho, Inglaterra, Londres. Voltamos para Paris no mês de julho. Fim de julho
começou a guerra. E nós ficamos sem trabalho. E de lá, o diretor, na época da
companhia, que voltou a ser diretor, depois de vários anos, nos levou para a
Austrália. E nós ficamos na Austrália quase dez meses. Depois fomos para os
Estados Unidos, ficamos dois anos. Depois desses dois anos teve Cuba e México.
Uma greve dos bailarinos, e ficamos sem trabalhos durante cinco meses por causa
dos bailarinos que fizeram greve. Um empresário cortou o contrato e vinhamos
para cá. Fizemos uma segunda vez México, terceira vez e viemos de navio para o
Brasil. Chegamos aqui em abril de 1942. Dancei no Theatro Municipal do Rio de
Janeiro em abril de 1942.
E dessas viagens você já ficou aqui, ou não?
Não. Continuei com a Cia, eu era uma das primeiras figuras, eu
adorava a Cia. Eu não deixei o Ballet Russo porque eu não gostava, para mim o
Ballet Russo era a minha família. Como eu falei a minha educação, tudo. Mas só
que Ania, minha melhor amiga, e eu pedimos uma licença de seis meses para ficar
aqui no Brasil porque a guerra tinha acabado. Precisavamos ganhar dinheiro, e
no Ballet Russo ganhávamos muito pouco. Era apenas para pagar hotel e comida,
um vestido, nunca. Raramente um vestidinho. Muito pouco. Era tempo da guerra,
não tínhamos subvenção nenhuma. Viviamos da renda dos espetáculos. Por isso que
a gente chegamos a dar 320 espetáculos por ano. E eu vou mostrar pra você o
livro. E nos últimos anos da guerra, de 42 a 46, nós demos quase 300
espetáculos por ano. Dançavamos terça, quarta, quinta, matinê e soarê (como eram
chamados os espetaculos noturnos) já são quatro espetáculos. Sexta, sábado,
matinê e soarê. Domingo, matinê e soarê. Segunda-feira descanso. São nove
espetáculos por semana. por isso se aprende. Aqui o pessoal não aprende o
suficiente porque nunca tem muitos espetáculos. Com dez espetáculos dizem “Ai,
que maravilha!”. Não, que é isso. Dançavamos todo dia, precisavamos ganhar para
comer. Mas não tinha nenhum governo que estivesse nos sustentando.
A última pergunta que eu tinha feito era como você começou a fazer
ballet, quem foram os seus mestres.
Então, eu fui aluna da Egorova. Quando eu entrei para a Opera
Cômica eu também fazia aula com a professora da Opera Cômica. Era Jean Schwarz.
Ela era da família Schwarz. As sobrinhas dela foram primeiras bailarinas do
teatro. Era a família Schwarz. O irmão, pai, todos eram bailarinos. Eles eram
bailarinos também na Opera de Paris e na Opera Cômica. E professores também. E
depois, quando eu voltei, depois que começou a guerra, que eu voltei pra Paris,
eu fazia aula todo dia. Não era porque não tinhmos mais espetáculo que não
íamos continuar fazendo aula. Durante as férias, em 1939, quando eu voltei de
Londres, eu perguntei a Egorova, se eu podia fazer aula com alguém, porque ela
ia ter quinze dias de férias. Ela me indicou com quem fazer aula. Então eu fiz
aula com Nora Kiss e com Boris Kniazev, que foram professores conhecidos. Esses foram
meus professores. Mas minha vida toda, mesmo bailarina profissional, mesmo
depois dos 30 anos eu sempre aprendi. Eu acho que a gente aprende a vida toda.
Porque depois que eu estive aqui eu tive aula com Veltcheck,que era um
professor daqui, fiz aula com Zaraspe, com Schwezoff, Harald
Lander, quando esteve aqui. E quando era férias, na época, o Theatro
Municipal, tinha umas férias muito longas. Por causa do baile de carnaval. O
mês de dezembro já parava porque tiravam a plateia, para fazer o baile de
carnaval. Até o fim do carnaval não tinha nada. Então era quase três meses de
férias. Ia pra Europa ou para os Estados Unidos estudar. Acho que uma bailarina
profissional aprende a vida toda. Tem pessoas que fizeram dez aulas na vida e
dizem “já sou bailarina”.
Então você falou que você ficou aqui seis meses nesse período de
férias lá do Ballet Russo? Com licença?
Nós viemos para cá em 42. Fomos para a Argentina, Uruguai, Chile,
Peru, Equador, Bolívia. Voltamos para Buenos Aires, ficamos no Colón dez meses,
depois fizemos no Chile, voltamos para o Colón, e voltamos para cá em 1946 ???.
Não, fomos para Montevidéu e voltamos pra cá em 1944 ??. Então fizemos
temporada em São Paulo. Eu me lembro que em 1º de maio dançamos no Pacaembu, na
frente do Getúlio. Tenho até uma fotografia, fazendo o prelúdio de Silphides.
Viemos depois pra cá, e voltamos para São Paulo. Na realidade tinha conhecido
o Luiz em Buenos Aires, durante o tempo que estava no Colón. O secretário
cultural da embaixada inglesa telefonou pra minha casa. Morava com minha amiga
Ania, minha melhor amiga.Ele queria fazer uma visita porque tinha um amigo que
queria conhecer as bailarinas. Falei que só tinha uma, porque Ania tinha saído
pra ensaiar no Colón, e eu não estava nesse ballet, por isso estava em casa.
Era um senhor, eu achei muito interessante, então eu conheci o Luiz, pronto. E
quando voltei pra cá, em 1944, saí com o Luiz. E me ofereceram Copacabana
Palace para dançar. Como a guerra tinha acabado precisávamos mandar dinheiro
pra Europa, não tinha notícia nenhuma, Você não podia se corresponder. Soube
que meu pai morreu dois anos depois, ele morreu em 1942 eu soube em 1944. Soube
por uma conhecida. A pianista de Egorova era judia. Ela teve que fugir de Paris
para o Sul da França. Lá era zona livre. Ela escreveu a alguém em Nova York que
o meu pai tinha falecido. E essa pessoa de Nova York conseguiu se comunicar com
de Basil, que era o diretor pra dizer que o meu pai tinha morrido. (pausa
para um café).
Gostaria de saber como foi que aconteceu o seu contrato aqui com o
Theatro Municipal.
A realidade foi que eu estava dando aulas, tinha um estúdio. E não
acontecia nada no Theatro Municipal. O ano era 1947.
Quando você resolveu então ficar aqui no Brasil foi para dar aula?
Não, foi para dançar no Copacabana Palace, no Cassino. Com
(Vaslav)Veltchek fazendo coreografia com Ania, eu e Tamara Grigorieva. As três
que ficamos. Nós éramos, digamos assim, as “losers” do espetáculo. Fora
cantores populares também. Mas dançar clássico, nós dançamos de
"tutu" branco. Com uma lua na cabeça. Trabalhamos até o Copacabana
Palace fechar.
Por que que nós ficamos aqui? Isso também pode ser do interesse de
vocês. Como a guerra tinha acabado, acompanhei o Ballet Russo. Ia voltar para
Montevidéu e, dessa vez, em Buenos Aires não dançar mais no Colón, mas no
teatro que chama Teatro Avenida. Voltar outra vez a fazer Santiago do Chile, Lima,
etc. Tivemos uma oferta do diretor do Copacabana, Atalaia, para fazer três
meses com opção de ir para seis. E pensamos: vai ser uma maravilha. Vamos
ganhar dez vezes mais do que ganhavamos no Ballet Russo, ia poder mandar
dinheiro para Europa. Sou cinco anos mais moça do que Ania. Agora eu sou muito
segura de mim, mas na época eu não era. Ela foi falar com De Basil para pedir
uma licença de três a seis meses para não ir com a Cia. Sabíamos que a Cia ia
para as mesmas cidades que já tínhamos feito. Tinhmos uma oportunidade de ficar
aqui e ganhar dinheiro. Eu, fora disso, tinha dois lados. Primeiro que eu
precisava ganhar pra mandar pra fora, e também tinha, enfim, um romance, que
era o Luiz. Quando se trabalha com o Ballet Russo, você encontra milhões de
pessoas, mas como você muda de cidade o tempo todo, dava uns beijinhos e já
tinha que ir embora. Não era como agora, que o pessoal "fica".
E o De Basil não deixou. O Atalaia ficou danado, porque, na estupidez, já
tinhamos assinado o contrato. Na verdade, com o Ballet Russo não tinha mais
contrato escrito. Porque, em tempos de guerra, você não sabe o que vai
acontecer daqui a um mês, e o De Basil era muito esperto, não tinhamos contrato
assinado. Trabalhávamos la porque era nossa casa, nossa família. Mas legalmente
não tinha nenhum vínculo. E ele não deixou. O Atalaia ficou furioso, disse que
ia apanhar um advogado. De Basil queria forçar a nossa volta, enfim, foi um
problema quase político. Fomos para São Paulo e de lá o advogado arranjou um
esquema para ter nossos passaportes de volta, não tínhamos documento nenhum.
Nossos documentos estavam com De Basil. Ele fazia os vistos, não nos ocupávamos
disso. O advogado falou para falarmos bem alto em russo para o pessoal não
saber que idioma a gente estava falando. E nós fomos interpelar para a polícia,
mas era um truque. E fomos levadas a polícia. Pediram documentos. Nós dissemos:
“Nós não temos documentos. Estão com o diretor”. Então telefonaram para o De
Basil que estava aqui no Rio, e o advogado dele foi levar nosso
passaporte. Quando trouxeram os passaportes para a delegacia, o delegado disse:
“Pronto, agora vocês fazem o que quiserem, toma.” Então fomos embora. Fugimos,
nos escondemos, porque o De Basil estava atrás da gente. Tinham pessoas que nos
esconderam durante alguns dias, porque a Cia ficou em São Paulo esperando que a
gente voltasse. Iamos para Montevidéu de trem especial. Viajávamos de trem
especial com roupa, cenário, às vezes até orquestra, dependendo. Depois de
alguns dias eles foram embora mas a gente não podiamos ficar aqui, nosso visto
era visto coletivo. O que fazer? Não podíamos ficar aqui e tinhamos assinado o
contrato. Procuramos ver quem podia nos dar um visto. Podia ir pra Cayenne. Mas
o cônsul francês disse que não ficava bem duas moças irem com visto pra
Cayenne, era o lugar que mandavam todos os prisioneiros. Agora não existe mais,
é na Guiana Francesa. A Flor de Oro Trujillo, que era filha do Trujillo, o
ditador, nos arranjou visto permanente pra San Domingo. Mas quem que ia pra San
Domingo? Ninguém. Mas com esse visto de San Domingo fomos para o Paraguai. No
Paraguai o cônsul brasileiro nos deu o visto. Voltamos do Paraguai e tinha
quatro dias para fazer o show. Tinhamos 20 e poucos anos, essas coisas só com
essa idade a gente faz. Quem nos levou para o Paraguai, talvez você jê tenha
ouvido falar, Leda Iuque. O marido dela que era o Caribé (da Rocha), era o
secretário do Ataiala. Quando chegamos aqui, o Dutra (Eurico Gaspar
Dutra,presidente do Brasil na época) fecha o Copacabana e todos os cassinos.
Tinha começado a dar aula. Dançavamos uma vez por dia no Copacabana Palace.
Fazia aula com Veltchek e dava aula num pequeno estúdio na Clínica Santa
Mônica. Consuelo Rios começou a fazer aula comigo lá. Abri uma academia, em
1945, em 1947 já tinha umas alunas relativamente boas. Por exemplo, Maria
Angélica, que foi da escola de dança, mas fazia aula comigo, Beatriz Consuelo,
que tinha vindo do sul, a Lorna Key, que estava aqui, mas já tinha sido
profissional. Ela tinha viajado com o Ballet Russo e voltou. Com algumas alunas
minhas, criei um grupinho de 17 pessoas - Arthur Ferreira, Johnny Francklin,
Dennis Gray, Edmundo Carijó, David Dupré chamado Ballet Society. Mas não
tinha nada a ver com “sociedade”. O pessoal levava isso como se fosse “a sociedade”.
Era “society” porque nós éramos uma corporação. Nós trabalhávamos no Teatro
Fênix, que era uma maravilha de teatro, parecia o Municipal, pequeno. Na Rua
Almirante Barroso. Lindo, tinha mais um andar que o Municipal. Em 1948 eu fui
embora para a Suíça com o Luiz que ficou doente. Em 1949, Mário Conde, que era
o cenógrafo do Theatro Municipal, veio me propor fazer alguma coisa no Theatro
Municipal. Assim entrei no Theatro Municipal como contratada por dois anos. Mas
vim como diretora do Corpo de Baile e professora. Fazia tudo, fazia as óperas,
o ballets, remontava. Não dançava, comecei a dançar depois que eu fui
funcionária pública. Porque não dava. Eu tinha tanta ópera. A primeira coisa
que eles me fizeram fazer quando eu fui contratada foi Opera Fausto. E eu nunca
tinha visto a Opera Fausto. E Fausto tem dois ballets. No primeiro ato tem a
valsa que não acaba nunca e tem a “Noite de Walpurgis”.
Foi uma das minhas primeiras coreografias, eu nunca tinha visto a ópera antes.
O meu trabalho no Theatro Municipal também foi um estudo, um aprendizado,
natural. Chegamos a fazer 14 óperas por ano. Todas as óperas tinham ballet. Não
é como agora que cortam os ballets. Agora também o Corpo de Baile não quer
dançar na ópera, porque acham ruim. Mas eu acho péssimo. Eu acho que os novos
que saem da escola de dança têm que fazer ópera. Você aprende tanto. De 1950
a 1952 eu fui contratada. De 1952 em diante virei funcionária pública.
Não era exatamente diretora, fui diretora depois
coreógrafa convidada, cada vez mudava. Maître de ballet diretora. Cada vez com
cada contrato, porque era de dois anos o contrato. Depois passei a coreógrafa
assistente, maître de ballet, diretora artística, conselheira artística. Cada
vez mudava, porque, com a Lei 14, com Lacerda, tirou a direção do Corpo de
Baile. Achei que era totalmente certo. Ele achava que não podia ser um diretor
permanente, que tinha que ter uma alternância. Se, por exemplo, não prestasse,
pudesse acabar o contrato. O que é totalmente certo. Mas a prejudicada fui eu.
Eu perdi o título. Eu passei a regente, depois passei a professora de arte,
porque como eu era funcionária pública não tinha mais essa função.
Ópera é tão bom. Você aprende tanto!
É tão bom! Eu me lembro, eu na Ópera Cômica fazíamos
muita ópera, era estagiária. Eu gostava, nunca me importei de fazer. No momento
que você está no palco é uma satisfação.
Você poderia falar um pouco sobre quais foram as
óperas que você coreografou?
As óperas? Vou ter que pegar pelo livro, porque isso
eu não sei Os ballets eu posso dizer mais fácil. Que eu coreografei ou que eu
remontei?
Nós vamos querer saber tudo, que você montou, que você
remontou...
Bom, o primeiro ano eu remontei “O Príncipe Igor”.
Isso em 1950. Eu coreografei “Variações Sinfônicas de Cesar Franck, um ballet
que eu tinha já montado no Ballet Society. Fiz o “Prometeu” do Leopoldo Miguez,
fiz “Bodas de Aurora”, “Danças Polovtsianas do Príncipe Igor”. Outra pessoa
remontou, acho que foi a Berta (Rosanova), “Sonata ao Luar” do Schwezoff. “Lago
dos Cisnes”. O Schwezoff tinha montado o “Lago dos Cisnes”, mas eu remontei
também. Depois vários Pas de Deux: “Quebra-Nozes”, “Cisne Negro”, Dennis dançou
“Dança do Sabre”, do Igor Schwezoff, “Dança Chinesa da Papoula Vermelha” também
do Schwezoff, fiz um “Bregeiro” de Nazereth, todas essas coisas que estavam no
“Bodas de Aurora”, que é a “Bela Adormecida” no último ato, também estavam
separados. Também se fazia espetáculos que tinham Pas de Deux. Várias coisas.
Todas as coreografias de Petipas, Fokine e Nijinska montadas por Tatiana
Leskova. De 1951: “Stella de Circo”, música de Stinco, “Giselle” completo, foi
a primeira vez no Brasil que se dançou “Giselle”, pelo corpo de baile, porque
outras companhias fizeram. Fiz “Mascarade” de Khachaturian, fiz “Les Sylphides”,
“Maracatu do Chico Rei” foi o Edy Vasconcelos, “Pas de Deux de Dom Quixote”, eu
fiz “Ondine”, eu remontei “Pas de Deux de Beau Danube” de Bleu Strauss,
coreografia de Massine, “Batuque” do Yuco, “Luta Eterna” de Schwezoff e
“Coppelia” do Petipas – Cecchetti. Isso foi o que eu fiz em 1951. Em 52: “Sinhô
do Bonfim”, Veltchek, “Papagaio do Moleque”, Veltchek, “Salamanca do Jarau”,
Tatiana Leskova, “Quadros de uma Exposição” do Veltchek, “Les Presages (2º
movimento)” remontado por mim e Leonid Massine, “Flocos de neve” do
Quebra-Nozes, “Cisne negro” e “Danças Indígenas do Guarani”, foi o Veltchek.
Em1953: Todos os ballets já mencionados. “Grand Pas de Quatre”, eu remontei.
“Mefisto Valse”, montou Maryla Gremo, “Mancenilha” montou Madeleine Rosay.
“Protée”, coreografia do David Lichine, fui eu que remontei. “L'après-midi d'un Faune” do Nijinsky, fui eu que
remontei. “Composições Abstratas” montou Veltchek. Já estão com 34 coisas. Em
1954: montei “O Espantalho”, música de Mignoni, “Pedro e o Lobo” de Prokofiev.
“Pas de Troi de Paquita”, coreografia Petipas e Balanchine. “Rondo Caprichoso”
montou Marília Gremo, “Narciso” montou Verchinina. “Raymonda” eu remontei,
coreografia de Petipas. “Bachianas Brasileiras”, Maryla Gremo. “Galope
Moderno”, Dennis Gray. “Pavane” de Ravel, Veltchek. “Sete Pecados Capitais”,
música de Ravel, Tatiana Lekova. “Rapsody in Blue” de Gershwin, coreografia
Verchinina. “Bacanal de Thais”, Veltchek. “Danças Eslavas”, Veltchek. Em 1955
eu montei “Foyer de la Dance” com música de Prokofiev, Nina Verchinina montou
“Redenção”, “Uirapuru” montou Veltchek. E fizemos “Giselle”, tudo que a gente
tinha feito antes estava sendo refeito. Em 1955 veio (Istvan) Rabovsky e Nora
Kovach. “Sherazade”, “Ballet Academy” do Szilard, “Eterno Triângulo”, Dennis
Gray. “Salomé” do Rabovsky. “O Tricorne”, Massine montou aqui, “Hino à Beleza”
e “Gaité Parisiense”.
A gente encontra isso nos livros?
Nesse aqui, só que está esgotado. “60 anos no Theatro Municipal”.
As letras são pequininhas. Outro dia eu telefonei para lá porque está errado.
Eles não estão contando, mas foi feito o “Lago”, foi feito o “Giselle” e foi
feito o “Coppelia”, antes. Nós fizemos também.
A edição é de 1971.
Mas está muito incompleta, está muito errado. Porque esse senhor
foi embora pra Brasília e ele, não sei se vinha, ou se alguém mandava as coisas
pra ele. E esse é de 71 a 90, e tem erros. E está muito vazio. E ele foi embora
pra Brasília. Ele assistia a todos os espetáculos, então ele escrevia tudo.
Edgar Brito Chaves Junior.
Pode ser que no sebo vocês encontrem. Mas teve um problema com uma
pessoa que eu não vou dizer o nome que reclamou que ele não tinha mencionado o
nome dela em espetáculos. Porque no livro diz quem dançou na estreia, não dá
pra dizer quem dançou em todos os espetáculos.
Bom, como isso a gente pode falar depois, você pode falar um pouco
sobre a rotina do Corpo de Baile?
Tenho que dizer que se trabalhava muito mais do que se trabalha agora.
Aula era de dez às onze e meia. Não, onze e quinze, tinha quinze minutos de
descanso e ensaiavamos até meio dia. De meio dia às duas era descanso, o
pessoal ia almoçar. E depois de duas às cinco. Esse era o horário normal. Você
tinha que assinar, se você fazia aula, uma cruz. Ensaio, a segunda cruz. Ensaio
da tarde, terceira cruz. Então às vezes tinha o cemitério, porque tinha gente
que tinha tanta cruz que era o cemitério. (Pausa) Você sabe que eu estou vendo
aqui, com vários coreógrafos, foram 151 ballets que foram montados no Theatro Municipal.
E que são perdidos, não tem mais nada. Só tem Quebra-Nozes.
Não tem nada a ver com a nossa pesquisa, mas ao mesmo tempo
tem. Porque eu acho que você é uma pessoa tão importante pra dança...
Eu não sou nada! Eu fiz muito mais lá fora. Porque desde 1989, que eu
comecei a trabalhar lá fora na Ópera de Paris, eu fiz muito mais do que eu fiz
aqui. Por exemplo, “Les Presages”, que foi o primeiro, foram 17 espetáculos. Um
atrás do outro. Porque não são três espetáculos e acabou, eles vão fazendo, repetindo,
porque tem público.
Eu percebo o seguinte, quando você mostra essa história toda, é que já
se fez muito mais no passado do que agora.
É porque essas jovens de agora elas têm pernas lindas. Não dançam,
levantam as pernas e rodam. Não sentem a dança. Não têm cultura da dança
nenhuma, porque nunca viram nada.
Porque já não se sabe se tem público ou não tem público. Às vezes
dão muitas entradas. Por exemplo, o Quebra-Nozes encheu. Mas o Quebra-Nozes é
um espetáculo pra criança.
É um espetáculo infantil que é colocado num horário que não é pra
criança assistir.
Fizeram uma matinê esse ano.
Mas você não vai construir uma cultura de dança só fazendo o
Quebra-Nozes. Porque você não vai comer todo dia filé mignon. Não dá, não tem
cultura de dança aqui nenhuma. Os fãs de ballets, assinantes, morreram. O
público de agora é um público que vem ver o Theatro Municipal porque está todo
douradinho.
Mas por algum caminho a gente tem que começar.
Você vê o pessoal que veio só querendo tirar fotografia do Theatro. Eles
não vieram ver o espetáculo, vieram ver o Theatro Municipal, que é um monumento
histórico, tudo bem. O pior é que essas bailarinas agora, pode ser que algumas
delas tenham talento, não sabemos se têm. E essas meninas que dançam agora nos
primeiros papéis. Você vê Ana traz um público, Ana é uma artista. A Cecília é
uma perfeição, traz um público. Mas as outras não trazem público.
Eu acho que tinham que fazer muitos espetáculos para jovem, para escola,
para fazer uma formação de público.
Mas eu vou te dizer uma coisa, também tem uma coisa de falta de
interesse, porque, alguns anos atrás, eu vi que não estava acontecendo nada, eu
fiz onze dvds de duas a duas horas e meia cada um. A história da dança.
Você viu. Pouca gente viu. Porque eu pensei que talvez, o pessoal
vendo vários ballets.
Mas lá encheu.
Sim, mas era pequenininho. Porque eu pensei que fazendo uma
cultura o pessoal poderia começar a escolher o que gosta mais. Aqui você não
tem nada pra escolher.
Eu tentei levar esse programa, esses dvds pra Unirio, mas não
tinhamos como pagar.
Mas não tinha que pagar nada. Nós ganhamos 1000 reais para onze
semanas. Eu fiz isso para mim, para fazer alguma coisa.
Ainda tem para comprar esses dvds?
Estão comigo. Agora parece que o Centro Coreográfico está
interessado.
E você teria? Porque de repente eu compro lá pra Unirio. Nós damos aula
de dança numa escola de teatro.
Eu conheço lá.
Ela foi na reinauguração da sala da Nelly.
Tem uma disciplina que é Dança e Educação, que está solta lá no
meio de um currículo, e quando eu dou essa disciplina eu dou alguns vídeos de
dança. Vídeos sobre a evolução da dança. E de repente, dependendo do preço eu
compraria pra poder passar pros meus alunos.
Vocês podem fazer cópias.
Eu fui a muitas palestras suas, não fui às onze, mas fui a muitas.
Porque agora tem no cinema, mas só “Bela Adormecida”, “Lago dos
Cisnes” e “Giselle”. Sempre a mesma coisa. Agora lá (nos videos) tem
Balanchine, Massine, Pina Bousch, tem um pouquinho de cada um. Para ter uma
noção das coisas. Porque o Corpo de Baile aqui, eu parei em 1980, mas se montou
muita coisa e se perdeu. Não é porcaria. Todos que fizessem alguma coisa aqui
diferente é uma riqueza. Porque não pode ficar sempre com a mesma coisa. Porque
ver “Lago dos Cisnes” ou “Giselle” a gente já viu. E nos dvds e nos filmes é
gente maravilhosa que não tem aqui. Com base clássica ou não. Tem que fazer um
pouco de cada coisa.
E os ballets que você dançou aqui?
O que eu dancei aqui? Eu fui Giselle, dancei Coppelia, dançou
Beatriz Consuelo, depois Tamara Cappeler, depois Sandra (Dieken). Dancei Cisne
Negro, do Schwezoff dancei Concerto Dançante, Dom Quixote, Raymonda, grand pas
de deux, não foi tanta coisa assim que eu dancei. Quer dizer, não foi o
repertório inteiro. Dancei coisas da Maryla Gremo, dancei ballet da Helba
Nogueira, dancei ballet do Dennis Gray, me botavam pra dançar eu dançava.
E você poderia contar alguma curiosidade significativa, que
aconteceu no dia-a-dia, que você ache interessante falar?
Mas eu tenho que pensar isso porque é tanta coisa e eu não quero fazer
fofoca.
Eu saí um pouquinho do roteiro de vocês?
Não, ele não é fixo.
(pausa)
Os programas também não têm data! Você já reparou? Que loucura!
Não têm. E os programas estão lá na biblioteca do Theatro Municipal, mas
estão em caixotes.
Nós tentamos ir lá, nós estamos fazendo uma carta para a Carla
Camurati pedindo para ter acesso a essas caixas.
Mas acaba que eles não têm interesse que o Corpo de Baile tenha
passado. Não estão lembrando que teve Veltchek, por exemplo, nem sabem que era!
Todas nós somos burras velhas, temos mais de 70 anos, eu tenho 89, pra que
esconder as coisas atrás de um biombo? Pra mostrar que só se começou a fazer as
coisas de 1980 para cá, não!
Isso é um assassinato, é falta de cultura, sabe?
Isso só está desse jeito porque teve passado, se não, não estaria.
Tudo que a Olenewa fez
foi a escola, não fez um Corpo de Baile, ela juntou bailarinos para refazer as
óperas. Espetáculo de ballet era uma coisa muito primária, era amador. A partir
daí, quando já pegou o Veltchek, já começou você a fazer as coisas aos poucos.
Uma companhia como o Theatro Municipal também não podia de um dia para o outro
virar profissional. Não existe isso.
Agora, você veja bem, se há tempos atrás, que não se tinha a facilidade
que se tem hoje, se construiu alguma coisa... Tudo bem que temos um passado
recente que está aí meio perdido...
Se construiu, não. Eu falei uma coisa um dia para o Geraldo
Matheus: aqui se faz ballet como as mulheres compram hoje vestido de noiva, usa
uma vez e guarda. E pela parte econômica, é dinheiro jogado fora!
Ou então quando se vai remontar uma coreografia tem que fazer tudo
de novo!
Porque é uma coisa que um ser humano que tem um pouco de cabeça...
Eu tenho um conhecido que é professor de arte em Porto Alegre na Universidade
Luterana e ele não sabe o que aconteceu aqui. Não sabem, ninguém sabe! Ninguém
lembra porque esse pessoal na época não ia ao teatro, ou então estavam em outra
cidade. Me dá uma raiva, sabe, porque é querer não saber.
É isso que você falou, é querer não saber. Isso é o mais grave
ainda, eu acho.
O que eu tenho anotado é só até 1980, eu tenho que fazer a
pesquisa depois. São 22 anos.
Não tanto! Tudo bem, não se dançava tantas vezes, mas se
dançava muitas vezes, nós tínhamos três temporadas. Uma oficial, uma nacional e
uma internacional. A primeira temporada era a oficial. No meio do ano era
internacional e fim do ano era nacional.
E isso era de Ballet e de Ópera. Tinha temporada nacional, tinha
temporada internacional...
Ópera Italiana, Ópera Alemã, Ópera Francesa.
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